sábado, 29 de maio de 2010

Educação como um todo

Esta semana foi de muitas leituras e, consequentemente de reflexões. Semana passada fui a um aniversário de uma colega do meu marido e a conversa que tivemos lá vem me "incomodando" desde então. Conversávamos em um grupo bastante heterogêneo: eu professora, meu marido - que trabalha em uma fábrica e está iniciando um curso de licenciatura, o irmão da aniversariante que cursa administração e outros três colegas de trabalho de meu marido - duas mulheres e um homem - que trabalham em fábrica de calçado e tem o ensino fundamental completo.
Começaram a falar sobre política. Fiquei chocada com a noção de política que as pessoas que não tem tanto estudo possuem. "eu não vou votar no fulano porque quando eu precisei dele ele não me ajudou. Eu precisava de creche pra minha filha e ele não me deu". - foi a fala de uma delas. O outro, falava sobre a quantidade de imposto que se paga aqui no Brasil, comentando que trazia coisas do Paraguai por encomenda. "Tem que diminuir o imposto. A gente paga muito imposto. Como é que em outros países não se paga tanto?". Comentei que na verdade o problema maior não é o imposto que pagamos, mas não termos retorno deste imposto, falando que em países mais desenvolvidos paga-se bastante imposto mas tem-se um sistema de saúde público bom, a educação é boa... O estudante de administração manifestou-se com a mesma opinião, perguntando como era o Paraguai. O outro então respondeu "aquilo é uma porquice. Lá é tudo sujo", mas completou dizendo "mas tem que cortar o imposto daqui".
Mais um pouco e o estudante de administração nos deu uma lição sobre juros, inflação, lei da oferta e da procura, falando sobre a expansão da classe baixa e quanto esta classe tem gastado, prejudicando a economia do país (muita procura - mais inflação) e do quanto , apesar da classe mais baixa estar ganhando um pouco mais, ainda se gasta mais do que se ganha.
Fiquei pensando o quanto as pessoas não compreendem que a forma como se gasta o dinheiro não é apenas um problema individual, mas coletivo. E o quanto as pessoas ainda não tem noção de que a politica não é para defender interesses individuais, mas coletivos (o critério de voto ser conseguir ou não a vaga na creche...).
Passei então a refletir sobre a educação política do nosso país. Nas escolas nao ensinamos como lidar com dinheiro, como funciona a economia, o que é política... Muitos dos nossos alunos não chegam nem a cursar o ensino médio, que dirá uma faculdade. Onde eles aprenderão sobre estas coisas? A política, aliás, deveria ser ensinada desde a educação infantil, já que não se aprende política falando sobre ela, mas vivenciando relações de justiça, de pensamento no bem estar coletivo, de discussão sobre as decisões que envolvem o grupo, etc.
Reproduzimos o que vivenciamos, e não tenho visto na escola experiências que propiciem uma educação política adequada. Ao contrário, temos imposto as coisas a nossos alunos. De que forma modificar a política em um país se não educamos para isto. Com todas estas questões tenho repensado minhas práticas na escola fundamental (pensando o que posso fazer com meus alunos), e quero levar a discussão para a escola infantil (como atuo com berçário, em minha turma especificamente não há muito o que fazer - estou iniciando um trabalho de utilização autônoma dos materiais, mas é isso...), mas penso que os discursos dos adultos envolvidos na educação devem passar por uma peneira, tendo estas questões em mente.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Jéssica!! Realmente, são questões para refletirmos... Como pensar trabalhos nesse sentido para os pequenos... Abração!!